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Capítulo 13 – Feridas Elegantes

  Garlei empurrou a porta da cozinha com o ombro, os olhos atentos varrendo o c?modo como se procurasse por uma amea?a. Ou melhor — por alguém.

  — Edine — chamou, já avistando a cozinheira perto do fog?o. — Você viu o Nwyn?

  Ela virou apenas a cabe?a, sem parar de mexer a colher na panela. O canto dos lábios se ergueu num meio sorriso.

  — Vi sim.

  Ela apontou com a colher para um canto da cozinha. Garlei seguiu o gesto e parou, confuso, ao ver uma pequena montanha de pano numa das mesas. Um vapor espesso saía de uma panela aberta, e por baixo do pano, só se via um vulto curvado — quase parte da mobília.

  Ele se aproximou devagar.

  — …Nwyn?

  Um murmúrio abafado respondeu:

  — T? aqui.

  — O que, exatamente, você está fazendo?

  — Vapores. Respirando...

  Garlei cruzou os bra?os, franzindo as sobrancelhas.

  — Você parece uma batata sendo cozida.

  Nwyn ergueu os olhos por entre o vapor, claramente ofendido.

  — é uma técnica medicinal milenar.

  — Claro que é.

  — Edine mandou. — ele acrescentou, como quem se defende de um crime.

  — Eu mandei nada — rebateu a cozinheira, rindo. — Só sugeri. Ele se enfiou aí por vontade própria.

  Garlei soltou um suspiro divertido. Ent?o, como quem se lembrava de algo mais importante, puxou uma trouxa cuidadosamente dobrada que trazia sob o bra?o. Depositou-a sobre a mesa, ao lado do vapor.

  — Aqui. Suas roupas para o banquete. Mandei fazer novas, do seu tamanho. E... — hesitou por um instante, depois enfiou a m?o no bolso do casaco — trouxe isso também.

  Ele estendeu o embrulho pequeno, envolto em papel simples. Por um momento, tudo ficou em silêncio. Nwyn afastou devagar o pano da cabe?a, o rosto ainda úmido e avermelhado pelo vapor. Piscou para Garlei, desconfiado, antes de pegar o embrulho.

  Quando abriu e viu o que havia dentro, parou.

  Um doce de amendoim. Aqueles redondinhos, embaladas em papel de cor desbotada. Chamavam de pa?oca. O cheiro doce preencheu o ar.

  Nwyn encarou o doce como se fosse uma lembran?a viva, recém-desenterrada.

  — Você lembrou.

  Garlei deu de ombros, tentando parecer casual.

  — Você ficava insuportável quando eu esquecia. Melhor prevenir.

  Nwyn riu — e foi um riso leve, desarmado, que subiu devagar até se tornar um sorriso cheio, daqueles que iluminavam o rosto por inteiro. Garlei o encarou por um instante, surpreso. N?o via aquele sorriso desde que tinham chegado ali. Talvez nem mesmo antes disso.

  — Obrigado, Garlei. De verdade.

  Garlei desviou os olhos, pigarreando.

  — De nada. Mas se você for com cheiro de eucalipto demais, v?o achar que é um banquete para fantasmas.

  — Vai ser um banquete para narizes limpos — rebateu Edine, Nwyn sorria enquanto mordia o doce que se esfarelava, com um brilho nos olhos que parecia o de outro tempo.

  Edine puxou o embrulho com as roupas novas e desdobrou uma das pe?as sobre o balc?o. Passou os dedos no tecido com um assobio baixo, impressionada.

  — Olha só… eu achei que você ia meter ele num casaco engomado até o pesco?o. Ainda bem que tem o mínimo de consciência.

  Garlei levou a m?o ao peito, teatral.

  — O quê? Eu sou a personifica??o do bom gosto.

  — Você é a personifica??o da sorte por ter Edine na cozinha — rebateu ela, voltando a dobrar a roupa. — E agora, com roupa que dá pra respirar, o senhorzinho vai sobreviver ao banquete.

  Nwyn riu outra vez, ainda com farelos da pa?oca no canto da boca.

  — E qual era o tal assunto importante que você precisava resolver, afinal? — perguntou, olhando para Garlei.

  Garlei apontou para o monte de roupa que Edine ainda segurava.

  — Isso.

  — …Roupa?

  — Roupa. E o que ela representa.

  Nwyn o encarou, curioso.

  — Você n?o pediu nada disso — continuou Garlei, mais sério agora — mas mesmo assim... você vai precisar fazer parte.

  Nwyn arqueou uma sobrancelha.

  — Fazer parte do quê?

  Garlei puxou uma cadeira e se sentou de lado, o corpo relaxado, mas os olhos atentos em Nwyn. O humor da conversa aos poucos se dissolvia, dando espa?o a uma gravidade tranquila, quase íntima.

  — De tudo isso. Da Central. Das decis?es. Do que vem depois. — Ele fez um gesto vago, englobando a casa, a cidade, talvez o mundo todo.

  — E o que eu tenho que fazer?

  Garlei pensou por um instante antes de responder. Quando falou, sua voz saiu mais baixa.

  — Primeiro... mostrar que está forte. Eles v?o querer ver isso. V?o tentar encontrar rachaduras. Você n?o pode dar isso pra eles.

  Nwyn assentiu devagar, absorvendo. O vapor da panela ainda se erguia ao lado, como uma cortina leve entre os dois.

  — E segundo — Garlei continuou, olhando diretamente para ele — entender que isso n?o vai ser sobre você. N?o hoje.

  Nwyn franziu levemente o cenho.

  — N?o sou o culpado?

  Garlei soltou o ar devagar, apoiando os cotovelos nos joelhos, as m?os entrela?adas.

  — Você n?o é culpado de nada. E mesmo que fosse… — ele desviou o olhar por um instante, como quem mastiga algo amargo — hoje o foco vai estar em mim. Fui eu quem perdeu a cabe?a. Fui eu quem atacou.

  Um silêncio denso pairou por um instante, quebrado apenas pelo som distante de talheres e passos no andar de cima.

  — A Guilda e os Forten estavam em harmonia por mais tempo do que deviam — ele come?ou, como quem repete uma história velha, mas importante. — Quando meus antepassados fundaram a Central, a Guilda veio depois. Trouxe for?a, trouxe influência… e ajudou a fazer esse novo “reino” funcionar.

  Nwyn ouvia em silêncio, o doce de amendoim esquecido nos dedos.

  — Por muito tempo, isso funcionou. Mas com o tempo, a Guilda e os Forten come?aram a ver o futuro de formas diferentes. O acordo que mantemos hoje foi uma forma de evitar um conflito aberto: os Forten continuam liderando a cidade... mas a Guilda tem liberdade para cuidar dos próprios assuntos. Quase como um estado dentro do estado.

  Ele passou a m?o pelos cabelos, frustrado.

  — Mas a verdade? Isso nunca foi equilíbrio. Foi um armistício. E tá come?ando a ruir.

  Garlei voltou a olhar para Nwyn, o peso da responsabilidade agora visível nos ombros largos.

  — Esse banquete… é o come?o do fim dessa encena??o. E você vai estar no centro.

  Edine, ainda segurando parte da roupa dobrada nos bra?os, franziu o cenho.

  — Garlei… você precisa mesmo contar tudo isso pra ele agora?

  Garlei n?o hesitou.

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  — Preciso. Ele tem o direito de saber. E se for se meter nisso — olhou de lado para Nwyn, com um meio sorriso —, que seja com os olhos abertos.

  Nwyn assentiu, a express?o agora mais sóbria, mas firme.

  — Eu quero ouvir. Continua.

  Ele se inclinou um pouco à frente, como se, ao fazer isso, se aproximasse da verdade que há tanto tempo estava sendo mantida longe.

  — Aquele homem — disse — o que me interrogou na pris?o. Quem era?

  Garlei ficou em silêncio por um momento. Quando respondeu, havia algo de contido em sua voz, como se segurasse mais do que dizia.

  — Rellin. Chamavam ele de Dedo Sem M?o.

  Nwyn franziu o cenho.

  — Mas… ele tinha todos os dedos.

  Garlei assentiu lentamente.

  — Justamente. é um dos membros fantasmas da Guilda. Eles… n?o têm o dedo decepado, como os outros. Assim conseguem se infiltrar. Espionar. Agir sem levantar suspeitas. — A voz de Garlei se tornou mais dura. — E torturar melhor.

  Edine parou o que fazia, quieta.

  Garlei continuou, encarando o ch?o por um instante antes de erguer o olhar para Nwyn.

  — Quando eu entrei naquela cela e vi você daquele jeito... achei que ele tivesse feito aquilo com você. Achei que Rellin tinha te quebrado, como quebrou tanta gente. Já vi o que sobra das vítimas dele, Nwyn. E n?o consegui segurar. Só de pensar no que você podia ter passado...

  A voz falhou no fim. Edine, em silêncio, se aproximou e pousou a m?o no ombro de Nwyn com um gesto leve, quase automático. Era simples, mas tinha uma ternura que atravessava qualquer palavra.

  Nwyn virou o rosto um pouco, tocando de leve os dedos dela com os dele, num agradecimento mudo. Aquilo o ancorava.

  Ele respirou fundo e olhou para Garlei.

  — N?o foi ele. — disse, baixo. — Mas… ele queria. Eu vi no olhar.

  Garlei assentiu devagar.

  — Ainda assim, ele n?o deveria nem ter encostado em você. E agora… agora ele quer te ver fraco, calado, apagado no canto do sal?o. Vai estar lá hoje. Com certeza. Observando.

  Nwyn se endireitou na cadeira.

  — Ent?o é melhor ele me ver em pé.

  Nwyn passou os dedos pelos fios úmidos da própria testa, tentando secar o suor do vapor que ainda lhe envolvia como um véu morno.

  — E o que eu tenho que fazer nesse banquete, afinal?

  Garlei se endireitou, apoiando uma das m?os no encosto da cadeira.

  — Ficar firme ao meu lado — respondeu. — Comer, se der. Vai ter comida boa. — Sorriu de lado, tentando tirar um pouco da sombra que pairava sobre as palavras.

  Nwyn arqueou uma sobrancelha.

  — Comida boa e um interrogatório social. Parece ótimo.

  — é o que temos pra hoje.

  — E quem vai estar lá?

  Garlei passou a m?o pelo rosto, como quem repassa uma lista mental.

  — Nós dois, claro. Minha tia, Sylvianne — disse com um tom quase resignado. — E também o comandante Tares Melbrin, cuida da seguran?a da Central. Um velho paranoico, mas confiável.

  — Nome de quem come livros — comentou Nwyn.

  Garlei riu.

  — Só se forem livros com mapa militar. Vai ter também o lorde Elven Darith, dono de boa parte dos comércios daqui. E lady Moren Vess, ela comanda os bordeis mais antigos da cidade. Se ela disser que sabe de algo… provavelmente é verdade. Ou ela inventou t?o bem que já virou verdade.

  — Um grupo… animado.

  — Rellin deve estar lá também — disse Garlei, e o tom ficou mais sério de novo. — O Sem Dedos. E outros da Guilda. Provavelmente.

  Nwyn ficou em silêncio por um momento, os olhos fixos no doce pela metade entre os dedos. Depois levantou o olhar.

  — E o que você acha que vai acontecer?

  Garlei hesitou. Depois, respondeu com um meio suspiro.

  — Minha tia é mais eloquente do que eu. Sabe lidar com gente difícil. E… mesmo que eu n?o goste disso, deixei tudo nas m?os dela, pelo menos por agora.

  Nwyn inclinou levemente a cabe?a.

  — Porque ela fala bem?

  Garlei balan?ou a cabe?a.

  — Porque ela é boa em limpar os erros dos outros. E esse, Nwyn… foi meu.

  O silêncio voltou por um segundo. Edine pegou a trouxa com as roupas, se afastando um pouco para deixá-los sozinhos com aquele peso leve — como uma nuvem prestes a chover, mas que ainda hesita no céu.

  Nwyn soltou o ar pelo nariz e disse, baixo:

  — Ent?o vamos vestir.

  Garlei sorriu.

  — E tentar n?o parecer que estamos indo pra forca.

  — Eu só espero n?o parecer uma batata chique demais.

  Eles riram juntos, e por um instante, a cozinha voltou a ser apenas uma cozinha — cheia de vapor, cheiro de doce, e um pouco de esperan?a.

  Nwyn subiu os degraus de madeira com um suspiro contido, sentindo os músculos ainda um pouco tensos depois do vapor. Quando empurrou a porta do quarto, viu Edine saindo com uma bacia nas m?os. Ela parou ao vê-lo, arqueando uma sobrancelha.

  — E aí, sabe se arrumar ou vai parecer um espantalho bem vestido?

  — Eu sei — respondeu ele, relutante. — Mais ou menos.

  Ela apoiou a bacia na cintura, encarando-o com aquele olhar de quem n?o aceitava “mais ou menos” como resposta.

  — Eu vou ajudar.

  — Eu consigo sozinho.

  — Já vi homem pelado o suficiente pra te dizer que n?o vai ser um garotinho magrelo e teimoso que vai me impedir de deixar alguém apresentável.

  Nwyn ficou vermelho até as orelhas, mas n?o respondeu. Só abriu a porta mais um pouco e deixou que ela entrasse.

  Edine foi direto até a cama onde ela mesma colocou as roupas cuidadosamente dobradas. Pegou-as e passou os dedos sobre os tecidos como quem avalia um prato antes de servir.

  Garlei tinha escolhido bem. A camisa era de um linho leve, cor de areia clara, com bot?es pequenos de madeira escura e costuras firmes. O colete era de um azul desbotado, elegante na simplicidade, sem brocados ou firulas, com corte justo e discreto. A cal?a era escura, de tecido resistente, confortável, mas com caimento firme. Um cinto de couro fino, bem trabalhado, fechava o conjunto. Havia até um len?o — um pequeno toque de vaidade que parecia saído direto da cabe?a de Garlei.

  — Isso aqui é bom — murmurou Edine. — Ele mandou fazer com a ideia de te ver usando de novo. é bonito, mas n?o grita “sou um riquinho mimado”.

  Nwyn deu um sorriso pequeno.

  — Parece que ele me conhece.

  Ela foi até o armário e puxou de lá um par de botas bem tratadas, com os cadar?os enrolados sobre o peito do pé. Levantou-as no ar, balan?ando diante dele.

  — Vai usar essas.

  Ele assentiu. Quando come?ou a tirar a camisa que usava, virou-se de costas para ela, tentando ser discreto. Edine n?o comentou nada, apenas come?ou a desdobrar o colete com paciência.

  Mas quando Nwyn se virou de novo para pegar as cal?as, ela olhou — e parou.

  No corpo dele, marcas amareladas come?avam a desaparecer devagar. O tom pálido da pele mal escondia um hematoma que ainda pintava o lado esquerdo do tórax. Na costela, um incha?o discreto, mas visível.

  — Você tá bem? — perguntou ela, apontando com um gesto de queixo para o lado machucado.

  Nwyn olhou para baixo, depois voltou os olhos pra ela com uma express?o meio vazia, meio resignada.

  — Doía muito na hora. Mas quando me jogaram na cela… foi como se tudo tivesse sido um sonho. Distante, sabe?

  Edine o encarou. Havia algo mais na pergunta que ela ainda n?o fizera.

  — Era pior que isso?

  Ele hesitou. Ent?o estendeu a m?o, a palma voltada pra ela.

  — Ontem isso aqui tava com uma faca atravessada — disse, como quem mostra um arranh?o de infancia. — Agora… — girou a m?o levemente — tá cicatrizando.

  A pele estava marcada por uma linha rosada, recém-formada, ainda sensível. Edine n?o disse nada por um momento, apenas se aproximou e passou a m?o pelo ombro dele, devagar.

  Nwyn fechou os olhos por um instante. O toque dela era o oposto da cela. Era o oposto do silêncio. Era cuidado.

  — Você vai estar bonito — disse ela, depois de um tempo. — E vivo. Já é mais do que muito homem por aí pode dizer.

  Ele sorriu de leve, assentindo.

  — Obrigado, Edine.

  Ela deu um tapinha no ombro dele e virou-se para sair.

  — Vou te dar privacidade. Quando terminar de se arrumar, me chama. Quero ver se n?o vai sair parecendo um nobre que trope?ou num estábulo.

  — Vou tentar trope?ar com elegancia — respondeu ele, puxando a camisa nova com cuidado.

  Nwyn prendeu os bot?es do colete devagar, sentindo o tecido novo deslizar entre os dedos. Quando olhou para o len?o que sobrara dobrado sobre a cama, riu baixo.

  — Isso aqui só pode ser piada do Garlei.

  Girou o peda?o de tecido entre os dedos, pensativo. Por um instante, observou a m?o. A linha da cicatriz ainda era sensível, avermelhada, mas a dor já n?o mordia. Enrolou o len?o ao redor dela com cuidado, cobrindo a marca. O nó ficou discreto, quase como um adorno, mas ele sabia o que era: uma armadura fina, uma lembran?a contida.

  Ao descer as escadas, as botas ressoando com passos firmes, Nwyn ajeitava a gola da camisa quando virou o corredor e quase deu de cara com uma presen?a que imediatamente o fez parar.

  Ela vinha em sua dire??o com passos silenciosos e calculados.

  Era alta, esguia como uma lamina bem forjada, de movimentos precisos e postura impecável. Os cabelos loiros estavam presos num coque elaborado, com mechas soltas que emolduravam um rosto de tra?os elegantes e frios, quase esculpidos em mármore. Os olhos eram claros e afiados, de um azul cortante, o tipo de olhar que parecia ver além do que era dito. A boca era fina, mas bem desenhada — e agora, desenhava um sorriso enviesado, quase divertido. Era uma mulher de idade. Mas era vinho também.

  Usava um vestido longo de azul marinho, de tecido pesado e nobre, com detalhes em prata que refletiam suavemente a luz do corredor. Os ombros cobertos por uma capa curta, e uma corrente delicada de prata prendia o colarinho.

  — Ora, ora — disse ela, com a voz baixa e bem articulada, com a ironia sutil de quem está sempre um passo à frente. — N?o sabia que Garlei havia me arranjado um par esta noite.

  Nwyn parou de respirar por um segundo. A roupa dela combinava com a dele, como se tivessem sido pensadas para caminhar lado a lado. Ele tentou dizer algo, mas só saiu um som que n?o era exatamente uma palavra.

  Ela ergueu uma sobrancelha, sorrindo de canto.

  — N?o vai me deixar falando sozinho, vai?

  — E-eu... n-n?o sabia que... — ele pigarreou. — Desculpe, senhora, é que...

  — Senhora? — ela riu, curta, e estendeu o bra?o, elegante e decidida. — Vai me chamar de “vossa alteza” também?

  Nwyn ficou parado, olhando para o bra?o oferecido, completamente sem saber o que fazer.

  — Quando uma dama oferece o bra?o — disse ela, com um tom de falsa paciência —, o cavalheiro aceita. Assim.

  Ela própria pegou o bra?o dele, ajeitando-o de forma correta entre o dela, com movimentos rápidos e naturais, como se estivesse endireitando uma estatueta torta. Ela olhou para ele e assentiu, satisfeita.

  — Muito melhor. Agora pare de parecer que vai desmaiar. Prometo n?o morder.

  Nwyn engoliu seco, sentindo o rosto esquentar. Mas ao lado dela, mesmo tenso, havia algo de curioso. O jeito como ela o conduzia, com gra?a e firmeza, quase o fazia esquecer a situa??o inteira.

  — Me chamo Sylvianne Forten — disse ela. — Tia de Garlei. E, esta noite, sua companhia no teatro mais delicado que essa cidade já viu.

  Ela inclinou levemente a cabe?a, o sorriso agora mais sério.

  — N?o se preocupe, rapaz. Você só precisa estar vivo, elegante… e, se conseguir, com a cabe?a no lugar. Isso já será mais do que o suficiente para deixá-los desconfortáveis.

  — Sou Nwyn.

  — Eu sei. Mas é Nwyn de que? — Ela come?ou a caminhar com ele pelo corredor, passos coordenados.

  — De uma fazenda no sul.

  — N?o, garoto. — Disse ela rindo. — Sobrenome, família, qual é a sua?

  — Ah sim... desculpa... n?o tenho, n?o usamos sobrenomes naqueles lados.

  — Algumas fazendas ainda têm esse costume? — Ela apertou o bra?o de Nwyn quando sentiu que ele afrouxou o abra?o.

  — Tenho vizinhos que come?aram a usar sobrenomes, mas a nossa n?o. — Nossa, Leny, onde ele estava? Estaria procurando por Nwyn?

  Sylvianne percebeu os pensamentos fluirem pelo garoto.

  — Vamos encontrar meu sobrinho antes que ele surte.

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