Garlei empurrou a porta da cozinha com o ombro, os olhos atentos varrendo o c?modo como se procurasse por uma amea?a. Ou melhor — por alguém.
— Edine — chamou, já avistando a cozinheira perto do fog?o. — Você viu o Nwyn?
Ela virou apenas a cabe?a, sem parar de mexer a colher na panela. O canto dos lábios se ergueu num meio sorriso.
— Vi sim.
Ela apontou com a colher para um canto da cozinha. Garlei seguiu o gesto e parou, confuso, ao ver uma pequena montanha de pano numa das mesas. Um vapor espesso saía de uma panela aberta, e por baixo do pano, só se via um vulto curvado — quase parte da mobília.
Ele se aproximou devagar.
— …Nwyn?
Um murmúrio abafado respondeu:
— T? aqui.
— O que, exatamente, você está fazendo?
— Vapores. Respirando...
Garlei cruzou os bra?os, franzindo as sobrancelhas.
— Você parece uma batata sendo cozida.
Nwyn ergueu os olhos por entre o vapor, claramente ofendido.
— é uma técnica medicinal milenar.
— Claro que é.
— Edine mandou. — ele acrescentou, como quem se defende de um crime.
— Eu mandei nada — rebateu a cozinheira, rindo. — Só sugeri. Ele se enfiou aí por vontade própria.
Garlei soltou um suspiro divertido. Ent?o, como quem se lembrava de algo mais importante, puxou uma trouxa cuidadosamente dobrada que trazia sob o bra?o. Depositou-a sobre a mesa, ao lado do vapor.
— Aqui. Suas roupas para o banquete. Mandei fazer novas, do seu tamanho. E... — hesitou por um instante, depois enfiou a m?o no bolso do casaco — trouxe isso também.
Ele estendeu o embrulho pequeno, envolto em papel simples. Por um momento, tudo ficou em silêncio. Nwyn afastou devagar o pano da cabe?a, o rosto ainda úmido e avermelhado pelo vapor. Piscou para Garlei, desconfiado, antes de pegar o embrulho.
Quando abriu e viu o que havia dentro, parou.
Um doce de amendoim. Aqueles redondinhos, embaladas em papel de cor desbotada. Chamavam de pa?oca. O cheiro doce preencheu o ar.
Nwyn encarou o doce como se fosse uma lembran?a viva, recém-desenterrada.
— Você lembrou.
Garlei deu de ombros, tentando parecer casual.
— Você ficava insuportável quando eu esquecia. Melhor prevenir.
Nwyn riu — e foi um riso leve, desarmado, que subiu devagar até se tornar um sorriso cheio, daqueles que iluminavam o rosto por inteiro. Garlei o encarou por um instante, surpreso. N?o via aquele sorriso desde que tinham chegado ali. Talvez nem mesmo antes disso.
— Obrigado, Garlei. De verdade.
Garlei desviou os olhos, pigarreando.
— De nada. Mas se você for com cheiro de eucalipto demais, v?o achar que é um banquete para fantasmas.
— Vai ser um banquete para narizes limpos — rebateu Edine, Nwyn sorria enquanto mordia o doce que se esfarelava, com um brilho nos olhos que parecia o de outro tempo.
Edine puxou o embrulho com as roupas novas e desdobrou uma das pe?as sobre o balc?o. Passou os dedos no tecido com um assobio baixo, impressionada.
— Olha só… eu achei que você ia meter ele num casaco engomado até o pesco?o. Ainda bem que tem o mínimo de consciência.
Garlei levou a m?o ao peito, teatral.
— O quê? Eu sou a personifica??o do bom gosto.
— Você é a personifica??o da sorte por ter Edine na cozinha — rebateu ela, voltando a dobrar a roupa. — E agora, com roupa que dá pra respirar, o senhorzinho vai sobreviver ao banquete.
Nwyn riu outra vez, ainda com farelos da pa?oca no canto da boca.
— E qual era o tal assunto importante que você precisava resolver, afinal? — perguntou, olhando para Garlei.
Garlei apontou para o monte de roupa que Edine ainda segurava.
— Isso.
— …Roupa?
— Roupa. E o que ela representa.
Nwyn o encarou, curioso.
— Você n?o pediu nada disso — continuou Garlei, mais sério agora — mas mesmo assim... você vai precisar fazer parte.
Nwyn arqueou uma sobrancelha.
— Fazer parte do quê?
Garlei puxou uma cadeira e se sentou de lado, o corpo relaxado, mas os olhos atentos em Nwyn. O humor da conversa aos poucos se dissolvia, dando espa?o a uma gravidade tranquila, quase íntima.
— De tudo isso. Da Central. Das decis?es. Do que vem depois. — Ele fez um gesto vago, englobando a casa, a cidade, talvez o mundo todo.
— E o que eu tenho que fazer?
Garlei pensou por um instante antes de responder. Quando falou, sua voz saiu mais baixa.
— Primeiro... mostrar que está forte. Eles v?o querer ver isso. V?o tentar encontrar rachaduras. Você n?o pode dar isso pra eles.
Nwyn assentiu devagar, absorvendo. O vapor da panela ainda se erguia ao lado, como uma cortina leve entre os dois.
— E segundo — Garlei continuou, olhando diretamente para ele — entender que isso n?o vai ser sobre você. N?o hoje.
Nwyn franziu levemente o cenho.
— N?o sou o culpado?
Garlei soltou o ar devagar, apoiando os cotovelos nos joelhos, as m?os entrela?adas.
— Você n?o é culpado de nada. E mesmo que fosse… — ele desviou o olhar por um instante, como quem mastiga algo amargo — hoje o foco vai estar em mim. Fui eu quem perdeu a cabe?a. Fui eu quem atacou.
Um silêncio denso pairou por um instante, quebrado apenas pelo som distante de talheres e passos no andar de cima.
— A Guilda e os Forten estavam em harmonia por mais tempo do que deviam — ele come?ou, como quem repete uma história velha, mas importante. — Quando meus antepassados fundaram a Central, a Guilda veio depois. Trouxe for?a, trouxe influência… e ajudou a fazer esse novo “reino” funcionar.
Nwyn ouvia em silêncio, o doce de amendoim esquecido nos dedos.
— Por muito tempo, isso funcionou. Mas com o tempo, a Guilda e os Forten come?aram a ver o futuro de formas diferentes. O acordo que mantemos hoje foi uma forma de evitar um conflito aberto: os Forten continuam liderando a cidade... mas a Guilda tem liberdade para cuidar dos próprios assuntos. Quase como um estado dentro do estado.
Ele passou a m?o pelos cabelos, frustrado.
— Mas a verdade? Isso nunca foi equilíbrio. Foi um armistício. E tá come?ando a ruir.
Garlei voltou a olhar para Nwyn, o peso da responsabilidade agora visível nos ombros largos.
— Esse banquete… é o come?o do fim dessa encena??o. E você vai estar no centro.
Edine, ainda segurando parte da roupa dobrada nos bra?os, franziu o cenho.
— Garlei… você precisa mesmo contar tudo isso pra ele agora?
Garlei n?o hesitou.
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— Preciso. Ele tem o direito de saber. E se for se meter nisso — olhou de lado para Nwyn, com um meio sorriso —, que seja com os olhos abertos.
Nwyn assentiu, a express?o agora mais sóbria, mas firme.
— Eu quero ouvir. Continua.
Ele se inclinou um pouco à frente, como se, ao fazer isso, se aproximasse da verdade que há tanto tempo estava sendo mantida longe.
— Aquele homem — disse — o que me interrogou na pris?o. Quem era?
Garlei ficou em silêncio por um momento. Quando respondeu, havia algo de contido em sua voz, como se segurasse mais do que dizia.
— Rellin. Chamavam ele de Dedo Sem M?o.
Nwyn franziu o cenho.
— Mas… ele tinha todos os dedos.
Garlei assentiu lentamente.
— Justamente. é um dos membros fantasmas da Guilda. Eles… n?o têm o dedo decepado, como os outros. Assim conseguem se infiltrar. Espionar. Agir sem levantar suspeitas. — A voz de Garlei se tornou mais dura. — E torturar melhor.
Edine parou o que fazia, quieta.
Garlei continuou, encarando o ch?o por um instante antes de erguer o olhar para Nwyn.
— Quando eu entrei naquela cela e vi você daquele jeito... achei que ele tivesse feito aquilo com você. Achei que Rellin tinha te quebrado, como quebrou tanta gente. Já vi o que sobra das vítimas dele, Nwyn. E n?o consegui segurar. Só de pensar no que você podia ter passado...
A voz falhou no fim. Edine, em silêncio, se aproximou e pousou a m?o no ombro de Nwyn com um gesto leve, quase automático. Era simples, mas tinha uma ternura que atravessava qualquer palavra.
Nwyn virou o rosto um pouco, tocando de leve os dedos dela com os dele, num agradecimento mudo. Aquilo o ancorava.
Ele respirou fundo e olhou para Garlei.
— N?o foi ele. — disse, baixo. — Mas… ele queria. Eu vi no olhar.
Garlei assentiu devagar.
— Ainda assim, ele n?o deveria nem ter encostado em você. E agora… agora ele quer te ver fraco, calado, apagado no canto do sal?o. Vai estar lá hoje. Com certeza. Observando.
Nwyn se endireitou na cadeira.
— Ent?o é melhor ele me ver em pé.
Nwyn passou os dedos pelos fios úmidos da própria testa, tentando secar o suor do vapor que ainda lhe envolvia como um véu morno.
— E o que eu tenho que fazer nesse banquete, afinal?
Garlei se endireitou, apoiando uma das m?os no encosto da cadeira.
— Ficar firme ao meu lado — respondeu. — Comer, se der. Vai ter comida boa. — Sorriu de lado, tentando tirar um pouco da sombra que pairava sobre as palavras.
Nwyn arqueou uma sobrancelha.
— Comida boa e um interrogatório social. Parece ótimo.
— é o que temos pra hoje.
— E quem vai estar lá?
Garlei passou a m?o pelo rosto, como quem repassa uma lista mental.
— Nós dois, claro. Minha tia, Sylvianne — disse com um tom quase resignado. — E também o comandante Tares Melbrin, cuida da seguran?a da Central. Um velho paranoico, mas confiável.
— Nome de quem come livros — comentou Nwyn.
Garlei riu.
— Só se forem livros com mapa militar. Vai ter também o lorde Elven Darith, dono de boa parte dos comércios daqui. E lady Moren Vess, ela comanda os bordeis mais antigos da cidade. Se ela disser que sabe de algo… provavelmente é verdade. Ou ela inventou t?o bem que já virou verdade.
— Um grupo… animado.
— Rellin deve estar lá também — disse Garlei, e o tom ficou mais sério de novo. — O Sem Dedos. E outros da Guilda. Provavelmente.
Nwyn ficou em silêncio por um momento, os olhos fixos no doce pela metade entre os dedos. Depois levantou o olhar.
— E o que você acha que vai acontecer?
Garlei hesitou. Depois, respondeu com um meio suspiro.
— Minha tia é mais eloquente do que eu. Sabe lidar com gente difícil. E… mesmo que eu n?o goste disso, deixei tudo nas m?os dela, pelo menos por agora.
Nwyn inclinou levemente a cabe?a.
— Porque ela fala bem?
Garlei balan?ou a cabe?a.
— Porque ela é boa em limpar os erros dos outros. E esse, Nwyn… foi meu.
O silêncio voltou por um segundo. Edine pegou a trouxa com as roupas, se afastando um pouco para deixá-los sozinhos com aquele peso leve — como uma nuvem prestes a chover, mas que ainda hesita no céu.
Nwyn soltou o ar pelo nariz e disse, baixo:
— Ent?o vamos vestir.
Garlei sorriu.
— E tentar n?o parecer que estamos indo pra forca.
— Eu só espero n?o parecer uma batata chique demais.
Eles riram juntos, e por um instante, a cozinha voltou a ser apenas uma cozinha — cheia de vapor, cheiro de doce, e um pouco de esperan?a.
Nwyn subiu os degraus de madeira com um suspiro contido, sentindo os músculos ainda um pouco tensos depois do vapor. Quando empurrou a porta do quarto, viu Edine saindo com uma bacia nas m?os. Ela parou ao vê-lo, arqueando uma sobrancelha.
— E aí, sabe se arrumar ou vai parecer um espantalho bem vestido?
— Eu sei — respondeu ele, relutante. — Mais ou menos.
Ela apoiou a bacia na cintura, encarando-o com aquele olhar de quem n?o aceitava “mais ou menos” como resposta.
— Eu vou ajudar.
— Eu consigo sozinho.
— Já vi homem pelado o suficiente pra te dizer que n?o vai ser um garotinho magrelo e teimoso que vai me impedir de deixar alguém apresentável.
Nwyn ficou vermelho até as orelhas, mas n?o respondeu. Só abriu a porta mais um pouco e deixou que ela entrasse.
Edine foi direto até a cama onde ela mesma colocou as roupas cuidadosamente dobradas. Pegou-as e passou os dedos sobre os tecidos como quem avalia um prato antes de servir.
Garlei tinha escolhido bem. A camisa era de um linho leve, cor de areia clara, com bot?es pequenos de madeira escura e costuras firmes. O colete era de um azul desbotado, elegante na simplicidade, sem brocados ou firulas, com corte justo e discreto. A cal?a era escura, de tecido resistente, confortável, mas com caimento firme. Um cinto de couro fino, bem trabalhado, fechava o conjunto. Havia até um len?o — um pequeno toque de vaidade que parecia saído direto da cabe?a de Garlei.
— Isso aqui é bom — murmurou Edine. — Ele mandou fazer com a ideia de te ver usando de novo. é bonito, mas n?o grita “sou um riquinho mimado”.
Nwyn deu um sorriso pequeno.
— Parece que ele me conhece.
Ela foi até o armário e puxou de lá um par de botas bem tratadas, com os cadar?os enrolados sobre o peito do pé. Levantou-as no ar, balan?ando diante dele.
— Vai usar essas.
Ele assentiu. Quando come?ou a tirar a camisa que usava, virou-se de costas para ela, tentando ser discreto. Edine n?o comentou nada, apenas come?ou a desdobrar o colete com paciência.
Mas quando Nwyn se virou de novo para pegar as cal?as, ela olhou — e parou.
No corpo dele, marcas amareladas come?avam a desaparecer devagar. O tom pálido da pele mal escondia um hematoma que ainda pintava o lado esquerdo do tórax. Na costela, um incha?o discreto, mas visível.
— Você tá bem? — perguntou ela, apontando com um gesto de queixo para o lado machucado.
Nwyn olhou para baixo, depois voltou os olhos pra ela com uma express?o meio vazia, meio resignada.
— Doía muito na hora. Mas quando me jogaram na cela… foi como se tudo tivesse sido um sonho. Distante, sabe?
Edine o encarou. Havia algo mais na pergunta que ela ainda n?o fizera.
— Era pior que isso?
Ele hesitou. Ent?o estendeu a m?o, a palma voltada pra ela.
— Ontem isso aqui tava com uma faca atravessada — disse, como quem mostra um arranh?o de infancia. — Agora… — girou a m?o levemente — tá cicatrizando.
A pele estava marcada por uma linha rosada, recém-formada, ainda sensível. Edine n?o disse nada por um momento, apenas se aproximou e passou a m?o pelo ombro dele, devagar.
Nwyn fechou os olhos por um instante. O toque dela era o oposto da cela. Era o oposto do silêncio. Era cuidado.
— Você vai estar bonito — disse ela, depois de um tempo. — E vivo. Já é mais do que muito homem por aí pode dizer.
Ele sorriu de leve, assentindo.
— Obrigado, Edine.
Ela deu um tapinha no ombro dele e virou-se para sair.
— Vou te dar privacidade. Quando terminar de se arrumar, me chama. Quero ver se n?o vai sair parecendo um nobre que trope?ou num estábulo.
— Vou tentar trope?ar com elegancia — respondeu ele, puxando a camisa nova com cuidado.
Nwyn prendeu os bot?es do colete devagar, sentindo o tecido novo deslizar entre os dedos. Quando olhou para o len?o que sobrara dobrado sobre a cama, riu baixo.
— Isso aqui só pode ser piada do Garlei.
Girou o peda?o de tecido entre os dedos, pensativo. Por um instante, observou a m?o. A linha da cicatriz ainda era sensível, avermelhada, mas a dor já n?o mordia. Enrolou o len?o ao redor dela com cuidado, cobrindo a marca. O nó ficou discreto, quase como um adorno, mas ele sabia o que era: uma armadura fina, uma lembran?a contida.
Ao descer as escadas, as botas ressoando com passos firmes, Nwyn ajeitava a gola da camisa quando virou o corredor e quase deu de cara com uma presen?a que imediatamente o fez parar.
Ela vinha em sua dire??o com passos silenciosos e calculados.
Era alta, esguia como uma lamina bem forjada, de movimentos precisos e postura impecável. Os cabelos loiros estavam presos num coque elaborado, com mechas soltas que emolduravam um rosto de tra?os elegantes e frios, quase esculpidos em mármore. Os olhos eram claros e afiados, de um azul cortante, o tipo de olhar que parecia ver além do que era dito. A boca era fina, mas bem desenhada — e agora, desenhava um sorriso enviesado, quase divertido. Era uma mulher de idade. Mas era vinho também.
Usava um vestido longo de azul marinho, de tecido pesado e nobre, com detalhes em prata que refletiam suavemente a luz do corredor. Os ombros cobertos por uma capa curta, e uma corrente delicada de prata prendia o colarinho.
— Ora, ora — disse ela, com a voz baixa e bem articulada, com a ironia sutil de quem está sempre um passo à frente. — N?o sabia que Garlei havia me arranjado um par esta noite.
Nwyn parou de respirar por um segundo. A roupa dela combinava com a dele, como se tivessem sido pensadas para caminhar lado a lado. Ele tentou dizer algo, mas só saiu um som que n?o era exatamente uma palavra.
Ela ergueu uma sobrancelha, sorrindo de canto.
— N?o vai me deixar falando sozinho, vai?
— E-eu... n-n?o sabia que... — ele pigarreou. — Desculpe, senhora, é que...
— Senhora? — ela riu, curta, e estendeu o bra?o, elegante e decidida. — Vai me chamar de “vossa alteza” também?
Nwyn ficou parado, olhando para o bra?o oferecido, completamente sem saber o que fazer.
— Quando uma dama oferece o bra?o — disse ela, com um tom de falsa paciência —, o cavalheiro aceita. Assim.
Ela própria pegou o bra?o dele, ajeitando-o de forma correta entre o dela, com movimentos rápidos e naturais, como se estivesse endireitando uma estatueta torta. Ela olhou para ele e assentiu, satisfeita.
— Muito melhor. Agora pare de parecer que vai desmaiar. Prometo n?o morder.
Nwyn engoliu seco, sentindo o rosto esquentar. Mas ao lado dela, mesmo tenso, havia algo de curioso. O jeito como ela o conduzia, com gra?a e firmeza, quase o fazia esquecer a situa??o inteira.
— Me chamo Sylvianne Forten — disse ela. — Tia de Garlei. E, esta noite, sua companhia no teatro mais delicado que essa cidade já viu.
Ela inclinou levemente a cabe?a, o sorriso agora mais sério.
— N?o se preocupe, rapaz. Você só precisa estar vivo, elegante… e, se conseguir, com a cabe?a no lugar. Isso já será mais do que o suficiente para deixá-los desconfortáveis.
— Sou Nwyn.
— Eu sei. Mas é Nwyn de que? — Ela come?ou a caminhar com ele pelo corredor, passos coordenados.
— De uma fazenda no sul.
— N?o, garoto. — Disse ela rindo. — Sobrenome, família, qual é a sua?
— Ah sim... desculpa... n?o tenho, n?o usamos sobrenomes naqueles lados.
— Algumas fazendas ainda têm esse costume? — Ela apertou o bra?o de Nwyn quando sentiu que ele afrouxou o abra?o.
— Tenho vizinhos que come?aram a usar sobrenomes, mas a nossa n?o. — Nossa, Leny, onde ele estava? Estaria procurando por Nwyn?
Sylvianne percebeu os pensamentos fluirem pelo garoto.
— Vamos encontrar meu sobrinho antes que ele surte.