home

search

Capítulo 6 - Sangue nas Ruas

  Os golpes cessaram de repente.

  Nwyn mal teve tempo de entender o que estava acontecendo. O frio da pedra contra sua pele foi a primeira coisa que sentiu. Depois, o gosto metálico de sangue na boca. O ar estava pesado, úmido, impregnado pelo cheiro de ferrugem e sujeira. O mundo girava ao seu redor, a vis?o oscilava entre borr?es e lampejos de luz. Havia dor, apenas dor! Ele piscou, tentando focar.

  Um som seco surgiu. Um estalo surdo contra carne e osso.

  O bandido que o espancava parou abruptamente, seu corpo ficou tenso por um instante antes de vacilar. Seus joelhos cederam. Ele tombou de lado, caindo sobre as pedras frias do beco.

  A máscara escorregou de seus dedos e bateu no ch?o com um som oco, sua superfície já manchada pelo tempo agora suja com mais sangue rubro.

  O corpo do homem convulsionava. O sangue quente escorria da parte de trás de sua cabe?a, misturando-se à sujeira do beco. Seus olhos reviraram por um instante antes de fecharem por completo.

  Nwyn mal conseguia manter o foco. Sua vis?o emba?ada captou apenas um vulto se aproximando.

  O cheiro, tabaco e canela.

  Uma po?a de sangue acumulava-se sob seu rosto, espessa, escura, refletindo fragmentos distorcidos da rua acima. No meio daquele reflexo tremulante, um brilho dourado piscou. Um ponto minúsculo, que cintilava por um instante antes de sumir. Nwyn piscou de novo. O brilho desapareceu.

  A mente ainda rodava, o peito subia e descia em desespero. O cheiro de tabaco e canela ainda pairava no ar, estranho, deslocado, e algo dentro dele gritou para se mover. Ele engoliu em seco, tateando o ch?o com as m?os trêmulas, encontrando o pano sujo e o fragmento. Guardou-os rapidamente dentro da roupa.

  Seus pés vacilaram nos primeiros passos, mas o medo empurrou seu corpo adiante. Ele entrou nas vielas sem olhar para trás, os becos estreitos o engolindo como uma boca faminta. As sombras eram densas, cheias de vultos que se moviam devagar, encurvados sobre fogueiras improvisadas, apoiados contra paredes sujas. Ninguém parecia se importar com sua presen?a, mas a hostilidade estava lá, invisível, sufocante. Quando passou por um grupo de homens próximos a uma carro?a tombada, um deles o empurrou sem nem olhar, murmurando algo ininteligível. Outro apenas desviou o rosto, ignorando-o completamente.

  Seu ombro colidiu contra uma mulher com for?a, fazendo-a soltar um som surpreso. O impacto foi breve, mas algo nele pareceu se fixar na mente de Nwyn—os cabelos loiros, uma mecha reluzindo sob a luz fraca de uma lanterna próxima. A mulher virou ligeiramente a cabe?a, como se fosse falar algo, mas logo puxou o capuz sobre o rosto, escondendo o resto das fei??es nas sombras, para enfim se perder nos becos, naquele instante, um aperto firme envolveu seu pulso.

  Unauthorized use: this story is on Amazon without permission from the author. Report any sightings.

  — Achei você. — A voz do guarda era fria, dura. — O ratinho sujo de sangue andando pelo bairro.

  Nwyn agiu por instinto, precisava fugir e foi o que fez. O guarda tentou segurá-lo, mas a pressa e o medo tornaram Nwyn rápido demais. O casaco deslizou da m?o do homem, e ele correu para mais fundo nas vielas, tentando sumir entre a escurid?o.

  N?o foi o bastante.

  Um peso esmagador o atingiu pelas costas, derrubando-o no ch?o de pedra. Ele grunhiu ao sentir o joelho do guarda cravar-se em suas costelas, prensando-o no ch?o com brutalidade. Já havia costelas quebradas ali, outra se juntou ao bando.

  — Que porra é essa toda no seu corpo? — O guarda cuspiu as palavras, puxando Nwyn para cima pelo colarinho, suas vestes inundadas de vermelho liquido.

  Nwyn ofegava, confuso, a boca seca. Tentou falar, tentou dizer que o sangue n?o era dele e nem era o culpado pela morte do dono, mas a língua parecia presa, as palavras embolando antes de saírem. O guarda estreitou os olhos.

  — Tá coberto de sangue e foge? Que merda você fez, garoto?

  Ele tentou falar, mas a m?o do guarda já o empurrava na dire??o da rua principal. Um aperto de ferro em seu bra?o, impossível de resistir. A multid?o ao redor apenas assistia, alguns curiosos, outros desviando os olhos.

  A carro?a com grades esperava logo à frente.

  O cheiro de madeira envelhecida misturava-se ao suor dos outros presos, amontoados como gado em um espa?o apertado. O guarda o empurrou para dentro, e ele caiu de joelhos, as palmas das m?os arranhando a superfície áspera do ch?o. A respira??o ainda descompassada, os pensamentos zunindo.

  A carro?a come?ou a se mover.

  O balan?o fazia cada dor em seu corpo pulsar. Ele mal conseguia manter a cabe?a erguida quando ouviu as vozes dos guardas do lado de fora.

  — Encontraram um corpo na Rua do Sal. — A voz do novo guarda era tensa. — Cabe?a foi amassada, muito sangue.

  — Que coincidência — O outro grunhiu. — E esse aqui tá coberto de sangue.

  Houve um silêncio. Nwyn sentiu o ar ao seu redor ficar mais pesado.

  — Pode ter sido ele. — O primeiro guarda falou, sem hesita??o. — O morto é um bandidinho meia boca, será que foi um "ladr?o que rouba ladr?o"?

  O cora??o de Nwyn disparou. Ele abriu a boca para protestar, mas as palavras n?o vieram. Ele sabia que n?o tinha feito nada, mas no olhar daqueles homens n?o havia dúvida, apenas julgamento.

  O segundo guarda bateu no lado da carro?a. — Vamos ver o que esse desgra?ado tem nos bolsos. Pensei que seria um filho de a?ougueiro doid?o, mas as coisas melhoraram!

  O panico se acendeu dentro dele. O fragmento. O pano. Eles tentariam roubar de novo! Eles n?o podiam...

  O soldado surgiu atrás da gaiola, abriu o trinco e gritou com os outros presos, para que se afastassem do garoto, Nwyn foi agarrado e jogado para fora. O trinco desceu e a porta fechou para os restante.

  Nwyn se moveu antes que pensasse. Sua m?o disparou para o lado, acertando o bra?o do guarda que tentava revistá-lo. N?o foi um golpe forte, mas foi o suficiente.

  — Moleque maldito! — O guarda rosnou.

  O punho dele veio rápido demais. O impacto pegou Nwyn no rosto, forte o suficiente para fazer sua vis?o explodir em branco. Antes que pudesse reagir, outro golpe acertou seu est?mago, fazendo-o dobrar para frente.

  As vozes ficaram distantes. O gosto de sangue inundou sua boca. O mundo girava, desaparecendo em preto e vermelho. Seu corpo ainda n?o havia aceito os ferimentos anteriores, novos já irromperam seu rosto e mancharam sua pele. A última coisa que sentiu foi seu corpo sendo puxado e atirado no ch?o duro. Um rangido pesado de ferro, e ent?o, sua velha amiga, escurid?o.

Recommended Popular Novels