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Capítulo 4 - Uma visão distante

  A muralha de troncos se erguia firme contra a noite escura, suas pontas afiadas recortando o céu como lan?as erguidas para desafiar qualquer amea?a. O luar prateado descia sobre a vila, refletindo-se nas pedras das casas e no teto de madeira das constru??es, criando um jogo de sombras e luz que tremulava com o brilho das piras e tochas espalhadas pelas ruas e pelo alto das torres de vigia. O vento era frio, carregando consigo o cheiro de lenha queimada e da terra úmida, resquício das chuvas recentes. A vila nunca dormia completamente—meus guardas, de armaduras de couro refor?ado e lan?as em punho, patrulhavam as passagens, suas silhuetas projetando sombras longas no ch?o de pedra e terra batida.

  Caminhei sobre a muralha, meus passos firmes ecoando levemente na madeira compactada. Meus olhos analisavam a extens?o da fortifica??o, observando as torres de vigia erguidas em pontos estratégicos, cada uma vigiada por soldados atentos. A expans?o foi rápida—talvez rápida demais—mas necessária. O território conquistado n?o poderia ser tomado de volta. Cada casa construída, cada palmo de terra anexado à vila, representava um passo a mais para o futuro que escolhemos ao fugir daquele reino.

  Ao virar uma curva da muralha, meus olhos pousaram sobre uma figura que se destacava no contraste entre a madeira escura e a luz trêmula. Era uma mulher—e n?o uma qualquer. Sua presen?a parecia etérea sob a lua cheia, como se a própria noite a tivesse esculpido e lan?ado ali para que eu a encontrasse.

  Sua pele era pálida, com um brilho sutil de madrepérola sob o reflexo do fogo. Os cabelos, longos e de um tom entre o dourado e o castanho claro, esvoa?avam suavemente na brisa noturna, soltos, mas bem cuidados, como fios de seda reluzente. Seus olhos eram hipnotizantes—um azul profundo, como o céu na primeira hora da noite, repletos de algo que oscilava entre mistério e uma firmeza silenciosa. Os lábios, de um tom avermelhado natural, estavam ligeiramente curvados em uma express?o calma, mas enigmática.

  Ela vestia um manto de tecido grosso, próprio para as noites frias, preso por uma fivela de bronze envelhecido em forma de um símbolo desconhecido. Sob o manto, uma túnica de tons escuros caía sobre seu corpo esguio, marcando apenas o suficiente para indicar uma postura de alguém acostumado ao movimento, à a??o. N?o era uma mulher frágil, apesar da aparência refinada. Suas m?os, expostas pela manga que recuava ligeiramente, tinham dedos longos e delicados, mas firmes, como os de alguém que já segurara armas, mesmo que agora apenas repousassem no parapeito da muralha.

  Ela n?o pareceu surpresa com a minha aproxima??o. Apenas me observou por um breve instante, a luz tremeluzente refletindo em seus olhos. O vento soprou novamente, fazendo seus cabelos dan?arem no ar, como se a noite conspirasse para tornar aquela vis?o ainda mais hipnotizante.

  Parei a poucos passos dela. O silêncio entre nós foi quebrado apenas pelo crepitar das chamas próximas e pelo som distante dos passos dos soldados ao longo da muralha.

  Observei Elizabeth por um instante, absorvendo cada detalhe da maneira como a luz das tochas dan?ava sobre seu rosto. A "Ferreira Delicada". Um título que, para muitos, parecia contraditório—mas n?o para mim. Eu já havia visto o que ela era capaz de criar, laminas t?o finas e bem equilibradas que pareciam cortar o próprio ar, engrenagens minúsculas que se encaixavam com precis?o absoluta moviam-se com precis?o quase mágica dentro de dispositivos que poucos sequer entenderiam.

  Elizabeth rompeu o silêncio primeiro, sua voz suave, mas direta.

  — Sua filha está dormindo?

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  Desviei o olhar para além da muralha, onde a vila repousava sob a luz trêmula das tochas. O vento frio bateu contra meu rosto, carregado com o cheiro da madeira queimada e do ferro aquecido, um cheiro que sempre parecia acompanhá-la.

  — Sim. — minha voz estava carregada de cansa?o. — Mas ela tem perguntado muito sobre o ataque.

  Elizabeth deu uma pausa, seus olhos refletindo uma preocupa??o que ela n?o tentava esconder.

  — Ent?o ela já sabe.

  — Ela sente. — corrigi, o peso da palavra saindo mais pesado do que eu esperava. — N?o importa o que eu diga, ela sabe que algo está vindo. E quando me pergunta se eu volto... Eu n?o sei o que dizer.

  Elizabeth ficou em silêncio por um momento, me observando como se quisesse entender mais, como se procurasse algo que eu n?o sabia verbalizar. Ela respirou fundo.

  — Eu ainda acho uma péssima ideia.

  Franzi a testa, sentindo a tens?o crescer, mas antes que eu pudesse responder, ela completou.

  — Mas a causa é justa. Se conseguirmos... — Ela olhou para o horizonte, como se estivesse tentando imaginar a linha tênue entre o que era possível e o que era um sonho distante. — Vamos libertar muitas vidas. Isso... tem um peso.

  Passei uma m?o pelo rosto, sentindo o cansa?o pesar ainda mais. Eu sabia que ela estava certa, mas o medo, esse medo persistente, nunca me abandonava.

  — Eu sei. Mas tenho a sensa??o de que n?o estamos vendo tudo.

  O vento soprou novamente, e por um momento, o silêncio tomou conta de nós.

  Elizabeth virou-se completamente para mim, cruzando os bra?os sobre o peito. A luz do fogo jogava reflexos dourados em seus cabelos e acentuava o foco em seus olhos.

  — Eu vou junto.

  Franzi o cenho.

  — N?o.

  Ela levantou uma sobrancelha, quase desafiadora.

  — N?o?

  Suspirei, antecipando o que viria.

  — Você é uma excelente guerreira, Elizabeth. Mas Charloth... eu preciso de você aqui.

  — E você acha que sou mais útil ficando aqui, protegendo uma crian?a, do que lutando? — A voz dela estava firme, sem raiva, mas com uma certeza fria. — Ela é muito importante pra mim, mas muitos ficar?o para trás e cuidar?o da vila.

  — Acho que você pode fazer as duas coisas. Mas se algo der errado...

  — Se algo der errado, — ela me interrompeu com a calma de quem já havia ponderado mil vezes sobre o que estava em jogo — eu quero estar lá. Para garantir que possamos consertar.

  Fechei os olhos, meu corpo já exausto, mas ela tinha raz?o. Elizabeth n?o era apenas uma ferreira. Ela era uma estrategista, uma lutadora. E talvez a única pessoa em quem realmente confiava, em todos os sentidos.

  — Você n?o vai mudar de ideia, vai?

  Ela sorriu levemente.

  — Eu teria desistido muito antes se fosse fácil me fazer mudar de ideia.

  Passei a m?o pelo rosto, exausto.

  — Certo. Mas temo que algo aconte?a com Charloth...

  — N?o vai acontecer.

  Ficamos em silêncio por um momento, apenas o vento preenchendo o espa?o entre nós. Ent?o, Elizabeth mudou de assunto.

  — Como vamos atravessar o deserto?

  Olhei para o horizonte, onde a lua cheia iluminava as dunas distantes, fazendo as sombras parecerem se mover como algo vivo.

  — N?o será um problema. Temos suprimentos para a travessia. O pior talvez seja a volta. Mas podemos conseguir algo quando chegarmos.

  Ela assentiu, pensativa.

  — Estamos arriscando muito.

  — Sim. — concordei, o peso da decis?o apertando os ombros. — Mas seríamos hipócritas se n?o ajudássemos.

  O vento soprou mais forte, e o cheiro de ferro e fuma?a ficou no ar. Internamente eu sabia que estava atrás de um exercito e n?o resgatando pessoas, mas nunca diria isso para ela.

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